Livros com capa fofa mas com conteúdo hot

Os perigos da capa “fofa” e a sacanagem do mercado editorial. De quem é a responsabilidade sobre a classificação dos conteúdos?

Com o aumento do nicho de influenciadores que indicam livros em plataformas como youtube e tiktok, redes sociais onde a maioria dos seus usuários tem entre 13 e 25 anos, uma discussão sobre o crescimento do consumo de livros do genero new adult com capas fofas, ilustradas em tons pasteis, remetendo a algo infantil e meigo, mas que o conteúdo é de cenas de sexo explicitas se espalhou. 

A linha tênue entre romance e “softporn” foram várias vezes mencionadas em postagens sobre o assunto. Até onde é responsabilidade da editora de informar aos leitores os conteúdos proibidos para menores em um livro e o que é dever dos pais saber o que o filho consome?

Primeiro ponto: O QUE É NEW ADULT 

Esse termo é utilizado como um subgênero do romance, classificando livros com personagens que estão em uma faixa de idade mais madura,entre 18 e 30 anos, geralmente transicionando da adolescência para a fase adulta. É nesse gênero onde os autores geralmente encaixam livros que terão como tema central descoberta da sexualidade, relacionamentos, vida acadêmica, trabalho e família. 

A série de livros OFF Campus, da autora Elle Kennedy, é um bom exemplo do gênero.

Cada livro acompanha a vida de um atleta jogador de hóquei, estudante da Universidade Briar, com foco em seus romances e amizades descobrindo o amor e o sexo. O sucesso foi tão grande que os quatro livros ganharão uma série adaptada pelo prime vídeo, que já tem até elenco confirmado. 

Esse gênero não é novo, livros com cenas de sexo e que contam histórias românticas entre jovens não é nenhuma novidade. Você podia encontrar em qualquer livraria um new adult com capa de um rapaz sem camisa, duas pessoas se beijando ou com objetos como algemas e chicotes, como é o caso de cinquenta tons de cinza, e essas capas faziam alusão clara sobre o conteúdo do livro.

Mas porque as capas com ilustrações foram dominando as prateleiras das livrarias?

As editoras reconheceram um padrão de reclamações dos consumidores do gênero que costumavam ler em público e se sentiam constrangidos em pegar transporte ou ler em um almoço de domingo com a família um exemplar de um livro com um homem seminu na capa. O bom exemplo sobre o assunto foi a troca da capa do livro vergonha, da Brittainy.C.Cherry, pela editora Record em 2019.

A trama se desenrola em uma pequena cidade, onde Grace, filha de um pastor, retorna após uma traição e busca refúgio na casa da amiga, que por ironia do destino, é a amante de seu marido. Paralelamente, Jackson, conhecido como a “erva daninha” da cidade, lida com um pai alcoólatra e o preconceito da comunidade. Ambos estão machucados e descrentes no amor, mas suas tristezas se atraem como um ímã, levando-os a um relacionamento passageiro e instável. No entanto, a convivência e a troca de experiências com o outro os ajudam a superar suas dores, a redescobrir o amor próprio e a acreditar em um futuro mais promissor.

Mesmo com uma sinopse dramática, profunda e romântica, esse livro sofreu muito preconceito entre os leitores porque eles se negavam a ler um livro com essa capa. A solução? Capa fofa com desenho.

Um problema foi solucionado mas em contrapartida outro questionamento começou a ser debatido entre pais e pessoas que não gostam de consumir esse tipo de conteúdo erótico: porque as editoras não colocam a classifição indicativa na capa do livro?

E a resposta é mais simples do que imaginamos: PORQUE ELAS NÃO TÊM ESSA OBRIGAÇÃO


 A classificação indicativa de programas de televisão, cinema, jogos eletrônicos e aplicativos, jogos de RPG, programas de rádio e espetáculos públicos são previstos pela Constituição Federal de 1988 e regulamentados por outros dispositivos legais, como o Estatuto da Criança e do Adolescente e portarias do Ministério da Justiça. Mas segundo o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), responsável pela regulamentação no Brasil, os livros não podem ser classificados.

O único respaldo que existe sobre o assunto está na lei nº 8.069/1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente) onde determina que publicações com conteúdo impróprio ou inadequado para crianças e adolescentes sejam comercializadas em embalagem lacrada, com advertência de seu conteúdo e do art. 79 da Lei nº 8.069/1990, que especifica que: ‘As revistas e publicações destinadas ao público infantojuvenil não poderão conter ilustrações, fotografias, legendas, crônicas ou anúncios de bebidas alcoólicas, tabaco, armas e munições, e deverão respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e da família’. 

Mesmo isentos dessa responsabilidade, muitas editoras colocam o informativo de “conteúdo adulto” no final do livro, onde entende-se que se refere a uma classificação +18. Muitos autores também, por conta própria, adicionam uma lista de gatilhos e temas sensíveis no começo do livro, prática que antes era mais comum no gênero de dark romance, mas o público está cada vez mais responsável e crítico sobre os conteúdos que consomem e com a responsabilidade social das editoras e autores, porque mesmo que não haja legislação para a classificação de livros, é dever de todos garantir o bem estar das nossas crianças, conforme o estatuto.

MONITORAMENTO DOS PAIS

A série adolescência lançada pela netflix em março deste ano, trouxe à tona novamente a responsabilidade dos pais sobre monitorar o que os filhos consomem. Na série, um adolescente mata sua colega de classe e acompanhamos o drama dos pais tendo que lidar com o peso da sua própria omissão na criação do filho e a negligência da falta de monitoramento nos conteúdos que ele consumia no secreto do seu quarto. 

No Brasil, o número de não leitores é de mais de 53% da população, muitos pais apenas permitem que seus filhos leiam sem nem saber o que pode estar sendo ensinado, sem se preocupar com o que eles estão consumindo. Eu, como mãe e leitora, me preocupo em garantir que meu filho tenha acesso a assuntos pertinentes a sua faixa de idade, sem demonizar livros com conteúdos eróticos, mas principalmente, não me isentando da minha responsabilidade na sua criação. 

Cabe aos pais compreender que a leitura é fundamental no conhecimento, crescimento e desenvolvimento do senso crítico das crianças, é deles a responsabilidade de introduzir os filhos no mundo das letras e também livrá-los de terem acessos a assuntos que não serão bem recebidos fora da idade certa. 

E pra você, qual sua opinião sobre essa polêmica? 

Carol Toledo

Carol Toledo é jornalista, tem 31 anos e mora em Guarulhos São Paulo.

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